A Era Pré-Moderna e a Moderna

Eis o que diz a Amazon Deutschland sobre o livro Die Reformation: Vorgeschichte, Verlauf, Wirkung (A Reforma: Pré-História, Curso (História) e Impacto (Resultados), de Luise Schorn-Schütte, publicado em 2016 pela editora C. H. Beck:

“Die Reformation ist nicht nur eine der wichtigsten Zäsuren der deutschen Geschichte, sie markiert auch im Blick auf Europa den Beginn einer neuen Epoche, der Neuzeit. Im Zentrum des informativen Überblicks stehen die Ereignisse der Reformation vom Thesenanschlag 1517 bis zum Augsburger Religionsfrieden 1555 unter Berücksichtigung der neuesten sozial- und kirchengeschichtlichen Forschungsergebnisse.”

[https://www.amazon.de/Die-Reformation-Vorgeschichte-Verlauf-Becksche/dp/340669358X]

Traduzo:

“A Reforma não é apenas uma das principais cesuras (rupturas) na história da Alemanha. Ela também marca, em relação à Europa, o início de uma nova época, a Era Moderna. No centro de uma informativa visão geral dos acontecimentos estão os eventos que demarcam a Reforma, começando com a divulgação das Teses [por Lutero], em 1517, e culminando com a Paz Religiosa de Augsburgo, em 1555, considerados da ótica das mais recentes pesquisas nas áreas da História Social e da História da Igreja”.

É apenas em relação a uma questão, mas, como diria Jânio Quadros, peço vênia para discrepar.

Hoje em dia costuma-se caracterizar, da perspectiva da Europa, os dois séculos que medeiam da Queda de Constantinopla (1453) ou da Invenção da Prensa de Tipo Móvel por Gutenberg (1455) até a Paz de Westfália (1648) como “Era Pré-Moderna”, colocando o início da “Era Moderna”, propriamente dita, em 1648 (e indo até 1914 ou 1918).

Por que a mudança?

Em termos de visão de mundo, de world view, de Weltanschauung, as mudanças introduzidas pelo Renascimento e pelas Reformas Religiosas do século 16 foram muito poucas e pequenas. Em relação a esse quesito, a Europa de 1453/1517 até 1648 é basicamente a mesma da Europa Medieval. Nem a Renascença produziu uma mudança significativa em relação à visão de mundo. Sem negar que as sementes de uma mudança significativa tenham sido plantadas pela Renascença e pela Reforma, só no Iluminismo essas sementes vieram gerar frutos.

Começando na segunda metade do século 17 e continuando ao longo de quase todo o século 18 (de 1648 até 1789, da Paz de Westfália até a Revolução Francesa, passando pela Revolução Americana de 1776, que mostra que “there is a new kind on the block”, o mundo mudou – no Hemisfério Norte, naturalmente.

Minha tese de doutoramento, defendida na Universidade de Pittsburgh, em Pittsburgh, PA, EUA, em Agosto de 1972, fundamenta este ponto de vista na perspectiva da História do Pensamento Cristão. O título é: David Hume’s Philosophical Critique of Theology and its Significance for the History of the Christian Thought. David Hume viveu de 1711 até 1776 (data da Revolução Americana). Ele deu a sua contribuição ao pensamento ocidental, que o considera o maior filósofo da língua inglesa que jamais viveu, em pleno coração do século 18. Depois de sua crítica mordaz à teologia, o fazer teológico mudou drasticamente.

A partir de meados do século 17 aparecem a Ciência Empírica (Galileo), o Racionalismo Filosófico (Descartes, Leibniz e Spinoza), o Empirismo Filosófico (Locke, Berkeley, Hume), a Filosofia Crítica (Kant e até certo ponto Hegel), a Crítica Histórico-Literária da Bíblia (Alta Crítica), a Teologia Liberal, o Secularismo, o Cientificismo Positivista, o Darwinismo, o Socialismo, já no limiar do século 20 a Psicanálise, etc. Voltaire nasceu em 1694, Hume, em 1711, Rousseau, em 1712, Diderot, em 1713, Adam Smith, em 1723, Kant, em 1724, Lessing, em 1729, Condorcet, em 1743, Jefferson, também em 1743, apenas para ilustrar com os mais conhecidos.

No período de 1517 a 1648 que a autora do livro destaca, faltavam quase 65 anos para o primeiro desses nascer. O que de melhor se pode fazer para esse período que ela cobre é rotulá-lo de Era Pré-Moderna, mesmo.

Em Salto, 23 de Junho de 2017.

 

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